sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Ninguém disse que era fácil....
"Um castigo não é uma forma de educar e incutir responsabilidade. É uma forma de quebrar relações e promover emoções como culpa, vergonha e raiva. Pode ser uma solução rápida e eficaz, mas se pensares bem nos reais efeitos, o mais provável é que descubras que não estão alinhados com a tua intenção como mãe/pai/professor." ( Fonte )
Ler isto hoje fez-me recuar no tempo.
Há alguns anos atrás recebi um telefonema da escola da I. Tinha ela 6 anos.
Pelos vistos tinha estado envolvida num episódio de atirar pedras para a rua, com outras crianças.
Depois da minha primeira reação de puro espanto, e de ter perguntado se tinha a certeza que era da minha I que estavamos a falar, responderam-me do outro lado da linha que por vezes não conhecíamos assim tão bem os nossos filhos.....Fui convidada a ir à escola a uma hora marcada para falar com a diretora, porque esta achava importante que estivessem juntos crianças, pais e alguém da escola.
Lá fui de coração apertado e munida de uma certeza inabalável de que não era a I.
Lembro-me de entrar no gabinete da diretora. De ser a única mãe presente. Os outros pais não tinham conseguido ir. Entraram então os 3 ou 4 "terroristas". A minha certeza ficou ali desconcertada.
Os meus olhos estavam fixados de tal modo nos olhos da minha I , que não me lembro sequer quem eram os outros meninos ou meninas.
Mantive-me calada. Olhos nos olhos com ela, enquanto a diretora lhes fazia perguntas e os amedrontava e ameaçava. Falou também a professora alertando para o perigo da situação.
Íam falando os miúdos, tentando justificar, tentando minimizar. Dos olhos da I lia-lhe para além das lágrimas, o medo, uma angústia pelo que tinha feito e talvez pelo que estaria para vir.
Por fim, era a minha vez de falar. Mas eu não era mãe dos outros. E com a minha filha falaria depois.
E foi só o que disse. Notei que a Diretora ficou surpreendida. Esperava talvez que eu desse ali um sermão à frente de todos. Mas não. Peguei na mão da I, e disse apenas que o que teria a falar com a minha filha seria só com ela. A escola já tinha feito o seu papel, mas sei que esperava castigos.
Assim que saímos a I entre lágrimas pediu desculpa.
Era a primeira vez que me deparava com uma situação destas.
Perguntou-me qual seria o castigo.
Peguei nela ao colo.
Não levantei a voz.
Perguntei-lhe se ela achava bem o que tinha feito.
Na sua inocência respondeu que não tinham acertado em nada nem em niguém....que só tinham atirado as pedras....
A única coisa que lhe disse foi " Sabes que podias ter magoado alguém que fosse a passar? Imagina que era eu com a tua irmã ao colo?". Talvez tenha colocado ali uma realidade muito forte de imaginar....
Ali, naquele momento achei que não haveria castigo.
Em casa, a nossa decisão de pais foi que apenas existiria uma conversa com ela.
E assim foi.
Calmamente apenas dissemos que sabíamos que não era da natureza dela fazer aquilo.
Que deveria começar a aprender a pensar por ela no que estava certo e errado. E que sabíamos que ela os conseguia distinguir bem. Que não devia ir atrás dos outros, mas pensar por ela própria.
Que sim, era grave o que tinha feito, mas confiavamos nela o suficiente para saber que não se ía repetir. Que a escola tinha regras e essas eram para cumprir.
(ao contrário do que a diretora me disse ao telefone, nós conhecíamos a nossa filha)
Nunca mais houve uma situação parecida.
Este episódio ficou arrumado.
A I passados 5 anos, falou-me disso. Lembrava-se. "Vocês foram os únicos pais que não deram um castigo!" E nesse momento eu tive a certeza que tinhamos feito bem.
E sei que surtiu muito mais efeito o voto de confiança que lhe demos.
Ainda hoje não sou defensora dos castigos.
Raramente uso a palavra castigo.
Muito menos aplicada a períodos "longos" de tempo, como "Ficas uma semana sem ver TV".
Um dos problemas dos castigos é aplicá-los, cumpri-los, isto pela parte dos pais.
Já me aconteceu ter dito "Agora por hoje terminou a TV" e mais tarde esquecer-me eu disso....e serem elas a dizer "Mas então eu afinal posso ver?!".....e depois então lá cai tudo por terra.
Salta-me a tampa muitas vezes. Levanto a voz outras tantas. Estou muito longe de ser perfeita.
Mas prefiro tudo resolvido na hora.
O contar até 10 não chega, aliás por vezes a contagem nem começa, e sinto-me como a tempestade Hércules.....no meio do mar já de si agitado lá vem uma onda imprevista e fora de controlo, que sai dos limites estabelecidos e espalha desordem e caos. A onda desaparece, aparentemente fica tudo mais calmo, mas depois há que reparar os danos...
Sei que já fui mais dotada do dom da paciência. E talvez até do dom da negociação.
Mas continuo a achar que conversar resolve muito e um abraço ainda mais.
Sei que sim, porque quando tudo acalma e sei que já me ouvem, a conversa termina sempre com um "Adoro-te mamã!" e um xi-coração apertado.
E não ficam rancores guardados ou armazenados uma semana....
Espero estar certa....
Para já só sei que apesar de muita agitação e energia, a I tem espírito crítico.
Sabe o que está certo e errado.
Vai tentando, apesar de tudo, pensar pela própria cabeça.
Tem incutidos muitos valores.
É responsável.
E deixa-me cheia de orgulho!
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