quarta-feira, 29 de abril de 2015

Expliquem-me como se eu fosse muito pequenina...

Aula de Educação Física, 3º ano.
Atletismo. Corrida 10 min.

Intervalo para a casa de banho.
Algumas meninas vão a correr.
Quando voltam a profª pergunta quem foi a correr.
Acusam-se com dedos no ar, incluindo a minha R.

"Agora, quem foi a correr à casa de banho corre mais 3 minutos!"

Portanto o castigo por ter ido a correr à casa de banho é correr...
A tendência natural depois de estar a correr 10 minutos não será correr?!

Expliquem-me como se eu fosse muito pequenina...
(Ou então falta alguma coisa nesta história....o que vindo da minha R não seria de estranhar!)


sábado, 25 de abril de 2015

Perspectivas


Um telefonema com uma habitante lisboeta sobre uma alteração de morada.
Pergunto se fica longe.
Responde-me que não.
"Apanha o metro na estação x, sai na estação y, depois apanha um táxi e são uns 5 minutos"

???
Ainda bem que não é longe.
É por estas diferenças de perspectiva que eu não me imagino a morar na capital, apesar de a achar linda.
Gosto de morar numa cidade onde tudo fica a três ou quatro músicas de distância.
A capital, guardo-a para visitas.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

Chatices

Roubaram-me a antena do carro.
Não consigo ouvir a rádio do costume sem ser aos soluços.
Ficam as piadas a meio e as músicas sem refrão. 
Mudo de emissora.
Fico indecisa entre outro tipo de humor, notícias, música que me deixa nostálgica ou música a bombar logo pela manhã, demasiado eletrizante.
Vou alternando entre uma e outra, pelo meio ouço o trânsito que nunca interessa porque não abrange a minha área....o que afinal é positivo.
Prefiro o "pause", já que o CD que lá está é o da Violetta....
Restam-me uns 70 segundos de semáforo vermelho....
Começa a instalar-se um nervoso miudinho...
Depois do semáforo apanho um condutor que trava a fundo à minha frente.
Depois de duas ou três vezes nisto, buzinei, também duas ou três vezes.
Abriu o vidro e disse. "O que é que você quer?"
E eu respondi "Piscas, ou o seu carro não tem?
Ele insiste com sotaque do norte: "O que é que você quer, não vê que eu quero estacionar!?
E eu que sou do norte mas nunca tive grande sotaque insisto "Piscas, senhor, Piscas! Aquilo que ensinam quando se tira a carta!" E cada um segue à sua vida.

Ele há umas quantas coisas que me tiram do sério.
E há dias tão cheios delas que até a frase "Não te chateies com isso" chateia!
Estou aqui a tentar ver se me lembro de algo bom no dia de hoje....espremido espremido...não está fácil!
É que nem chocolate há!


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Dias de não querer


A costura das meias deu 10 minutos de conversa.
Tem um cantinho mais saliente que toca no dedo mindinho e magoa.
Queres trocar de meias?
Queres trocar de sapatilhas?
Não queria nada.
Descalcei-lhe a meia. Virei-a do avesso e analisei a costura.
Cortei uma linha das meias. Cortei até mais do que a linha. Ficou lá um pequeno buraco.
Continuava a magoar.
Queres trocar de meias?
Queres trocar de sapatilhas?
Queria trocar apenas uma meia (!!).
Queres pôr um penso no dedo?
Também não queria.

Juro que ainda brinquei com isto tudo munida da mais pura paciência às 8 e picos da manhã.
Estava até a ser uma manhã com tudo dentro do tempo previsto.
Havia boa disposição de ambas as partes.
Ainda lhe disse que uma meia de cada nação era capaz de ser engraçado.

Mas há um ponto, aquele em que todas as soluções apresentadas não servem (Só me restava deixá-la ir de chinelos ou cortar o dedo), em que ponho a batata quente do lado de lá...."Então como queres resolver?"

Não sabia. Decidi por ela.

Lá ficou de penso rápido no dedo, novo par de meias e sapatilha calçada.
A costura já não incomodava.
Agora era o penso que ficava alto no dedo!
Queres tirar?
Não queria.

Lavei-lhe a cara como só mãe sabe.
Chegou atrasada à escola.
Antes de ir para a sala ainda houve tempo para um grande abraço apertado, daqueles que enxugam as lágrimas.
O abraço apertado é costume. As lágrimas nem por isso, pelo menos ali.

Ouvi o barulho dos miúdos no campo de jogos.
Ela lá estava a correr, uns minutos depois de ter chegado.
Aparentemente sem incómodo no pé...

E uma mãe tem que ser adivinha e perceber o que esconde uma costura de uma meia.

Que saudades eu tenho dos dias leves de Verão...





quarta-feira, 22 de abril de 2015

Nem só os crescidos se cansam.


A R adora a escola.
Os amigos, os intervalos, a professora.

Hoje de manhã ouvi "Porque é que tem que haver escola?!"
Não me apeteceu responder nada de politicamente correto.
Não me apeteceu dizer que tem que ser porque é importante, que é lá que se aprende, porque é lá que se prepara o futuro...
Às vezes apetece só ficar e deixar as obrigações do lado de fora, até aos adultos.

Há dias que o sono persiste. Custa-me acordá-las.
Devia ser crime tirar uma criança de um sono tão pacífico depois anos a tentar adormecê-las... e de outros tantos a dizer que está na hora de ir dormir.
Se a elas não apetece nada sair do quentinho, a mim também não.
(E às vezes também penso porque é que tem que haver escola....ou pelo menos este modelo de escola...)

A R anda cansada. E eu cansada ando.
Todos os dias aprende uma matéria nova. 
Já aprendeu montes de coisas que a irmã só viu que existiam no 5º ano...
Suponho que seja difícil assimilar tanto conceito aos 8 anos...
(os tipos de solos, a permeabilidade dos mesmos, as formas de relevo, os astros, os tipos de raízes e de folhas, os animais migratórios, a evolução dos meios de transporte, fracções, números decimais e já para não falar do vasto universo do nosso Português....)

Os TPC´s felizmente não são muitos mas moem.
Moem porque andam como um fantasma a assombrar o fim de semana.
Moem porque as tardes não são livres para os fazer.
Porque me parece que ela em casa já nem quer pensar mais.
Desiste antes de começar.
Prefere perguntar primeiro. Pergunta como se começam as frases, não lhe apetece procurar as respostas no texto, nem onde tem a matéria no caderno, nem pensar onde se põem as vírgulas nos números.
Faz muita coisa porque meteu na cabeça que era assim mas não percebe.
Faz para despachar, para estar feito.
E ela não era assim.

E eu tenho algum receio que esta escola lhes esteja a mirrar a vontade de aprender, que os enfadonhe em vez de os cativar, que seja vista só como uma obrigação, que instigue a preguiça e não a curiosidade, que os formate tipo chapa cinco, que os faça desejar que não houvesse escola....


terça-feira, 21 de abril de 2015

Demência matinal


Aquele momento em que saio de casa de manhã e não encontro o carro.
Havia um da mesma marca e quase as mesmas letras na matrícula mas não era esse...
Bem, talvez esteja nas traseiras, penso já meia irritada porque o marido não avisa quando troca o carro de sítio.
Vou às traseiras. Nada.
Volto à frente da casa. Procuro melhor, com olhos de ver. Nada.

Ligo ao marido.
"Pegaste no carro?"
Ele responde que não e começo a ponderar que talvez tenha sido roubado.
A cabeça trabalha a mil para perceber o que estaria lá dentro.
É estranho que na falta do carro em si a preocupação fosse cair no conteúdo....e no facto de isto não estar nos planos matinais e como tal vou chegar atrasada ao trabalho...
(Ainda não tinha tomado café)

Começo a traçar os passos do dia anterior para me lembrar onde o teria estacionado, tal e qual como quando não sabemos onde pusemos um casaco ou as chaves....

Ligo ao marido, que aguarda novidades.
- "Olha esquece! Já sei onde está..."
Tinha-o estacionado na escola da mais nova...e depois tinhamos ido a pé para casa....

Ainda bem que não liguei à polícia!
(até porque nem sei dizer a matrícula completa!)



segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sabes que o tempo voa quando...

- Arrumas as tuas gavetas e dás parte das tuas roupas à tua filha.
(1º porque não te servem, 2º porque já lhe servem)
- Vais à janela e as árvores estão verdes e de repente está tudo florido e cantam os passarinhos.
- És informada que está na altura de marcar as férias no calendário.
- A tua filha acha que trocou o fato de treino da ginástica com alguém porque o que tem não lhe serve....
- Está aí o dia da mãe e ainda ontem foi o dia do pai.
- Começas a achar que talvez esteja calor a mais para botas.

- Recebes um email da escola com o tema "FESTA DE FINAL DO ANO"!!!!!!!!!!!!!!!!

Como? Já?
Mas não era janeiro e inverno e frio??
Como chegamos aqui tão depressa??






domingo, 19 de abril de 2015

Coincidências


Hoje a I viu um clássico - "Regresso ao futuro" com o Michael J. Fox, de 1985

Não é que o regresso ao passado é para o dia dos anos dela?
Não é que ela viu o filme com 12 anos?
Não é que era a minha idade e a do pai quando o filme saiu?
Quando vimos o filme lá imaginávamos que teríamos uma filha nascida naquele dia e mês...

Depois viu o Regresso ao Futuro II...e ele vai a 2015!


sábado, 18 de abril de 2015

Simples e eficaz...


Uma professora do 3º ano nos EUA queria conhecer melhor os seus alunos.
Pediu-lhes que escrevessem uma frase começada por "I wish my teacher knew..." para que ela ficasse a conhecer alguma coisa sobre eles.
Foi partilhando as respostas no twitter e depressa outros professores e até alunos começaram a fazer o mesmo. 
Brilhante. 
É tão mais fácil escrever um desabafo do que responder verbalmente à pergunta "Então está tudo bem?"

Gostava que esta onda se espalhasse por cá, em território nacional.
Gostava que esta tentativa de conhecer melhor os alunos fosse uma prática comum.

Para além do "Eu gostava que o meu professor soubesse..." creio que mais alguns também seriam de se fazer...

"Eu gostava que a minha filha/filho soubesse..."
"Eu gostava que a minha mãe/pai soubesse..."


(Aqui ficam alguns retirados daqui  "I wish my teacher knew...")




sexta-feira, 17 de abril de 2015

De coração


R - "Dás uma moeda aquele senhor? Era cego mãe, viste?
A mãe - "Não reparei. Só tenho moedas grandes. Gastei as outras no estacionamento."

Continuamos a nossa volta. Parei na pastelaria. Tomei um café.
Regressamos pela mesma rua.

R - "E agora, já tens moedas mais pequenas? Podemos dar ao senhor? Tenho tanta pena dele..."

Podíamos, mas ele não estava no mesmo sítio e o tanto que a R lhe queria dar uma moeda fez-me dar a volta ao quarteirão. Estava noutra esquina. Sim era cego. A R tinha vergonha de lhe dar a moeda na mão. Mas deu. Ele agradeceu e ela ficou feliz.
E eu fiquei a pensar que, se não fosse ela, talvez me passasse despercebido.
E fiquei a pensar no café que tomei, e na conversa sobre as moedas grandes e pequenas...

E no grande coração com que todos nascemos, e em que parte do caminho ele se torna aparentemente mais pequeno, por vezes até invisível, mesmo continuando lá.













quinta-feira, 16 de abril de 2015

Mais uma!


Na onda do "sabes que estás ultrapassada quando..." e "sei que passei dos 40 quando..." hoje voltei a deparar-me com algo que se encaixa bem em qualquer um dos temas...

Creio que isto agora começa a ser uma constante.

Aqui fica o cartaz da Queima das Fitas 2015.
De todos os que animarão as noites do (ex) parque e tirando os da casa...só é do meu tempo de estudante o QUIM BARREIROS!
O que me leva a questionar como é o que homem ainda aguenta estas andanças?!

Quanto aos restantes...tenho cá a impressão que não tarda tenho as miúdas a pedir para ir aos concertos da queima... e já devem conhecer mais nomes que eu.
Não se importariam de ver o Anselmo Ralph, e a mais nova é mega fã dos D.A.M.A. ao ponto de saber letras de cor.
Ai se ela sabe!!!!!



quarta-feira, 15 de abril de 2015

O que eu me divirto com isto


Está no topo da lista de programas que gosto de ver na TV.
Tenho dito.
O que me rio e divirto a ver isto.
E agradeço à inovação na tecnologia que permite este andar para trás no tempo e ver numa terça feira o programa de domingo. Nunca pensei que a TV se transformasse numa máquina do tempo.

Eu sei que não é de bom tom.
É feio gozar com a (des)graça alheia.
Até a minha mais velha me alertou com ar de minha mãe para o facto de eu me estar a rir deliberadamente de outras pessoas...
Até aceito que o júri é mauzinho e por vezes rude. A própria produção acrescenta um ponto ao cromo. Talvez seja um bocadinho de bullying televisivo. Será que "Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida"?

Estes moços e moças que se candidatam a Ídolo de Portugal, sabem e sonham que o sonho comanda a vida mas será que não sabem nem sonham a figurinha...a sério, nunca ninguém da família lhes terá dito a verdade sobre os seus dotes vocais. Acaba por ser o que mais me espanta.... Eu só posso acreditar que eles vão às escondidas dos pais....porque se uma filha minha não soubesse cantar eu lá a deixava ir!!

Espanta-me também que não tenham noção do perigo em que incorrem ao pisar aquele solo.
Devem assinar alguma coisa para permitir que passem estas imagens...

Ainda assim atrevo-me a dizer que gosto e pronto.
E mais, não sei se conseguia ser júri e conter o riso (leia-se gargalhada sonora) com aqueles figurinos à minha frente.
Continuei a rir até chorar, por isso as miúdas sentiram que também o podiam fazer...
(Não foi muito educativo, eu sei)

A minha R sentiu-se inspirada e até ilustrou a mesa do júri.

Não sabia o apelido do Pedro....e eu só me lembrava de Rugeroni! Ficou só Pedro. E a Maria perdeu o João.
(Já agora, que aconteceu ao senhor que está meio bisgarolho?!)




Quem perdeu a estreia pode ver aqui ou aqui alguns dos momentos crómicos.
Ah, e gostei muito desta moça, a Pascoal! (Tinha de ser Cláudia!)

terça-feira, 14 de abril de 2015

E esta hein?


Já conhecia os poderes milagrosos da cebola para as tosses.
Testado na mais nova, para mais de uma centena de vezes.....infalível!
100% de sucesso.
Para além da tosse diminuir nos primeiros 5 minutos e desaparecer no resto da noite, no dia seguinte tende a melhorar significativamente. No inverno verifico sempre se tenho cebolas!
Só custa entrar no quarto pela manhã. Aconselha-se arejamento....

O que não sabia era desta da meia.


E experimentar para mazelas desportivas do calcanhar???!
Temos lá por casa 2 calcanhares a precisar disto.
Um em cada miúda.
Até dá para um estudo comparativo!

Para breve os resultados!
(Isto se elas concordarem em fazer a experiência)

Saúde


Em Dia Mundial do Beijo (10 abril), a R disse que íam ter uma Sessão de Saúde na escola da parte da tarde.
Pensei eu, pronto lá vão aprender a lavar os dentes outra vez, o que aliás nunca é demais tendo em conta as últimas que vão correndo sobre o facto de não os sabermos lavar correctamente e os maiores erros cometidos na sua lavagem. Um tema controverso portanto e sempre actual. Nunca é demais.

R - "Oh mãe sabes sobre que foi a sessão da saúde?!"

(Lavar os dentes ou outros salutares hábitos de higiene pensei, mas sem tempo de abrir a boca para dizer. Ela já estava a anunciar o tema.)

R - "SEXO! Foi sobre SEXO!" - disse com um certo ar de Achas normal?!

A mãe - Ai sim? E falaram de quê? - disse eu enquanto pensava....já?! Ela tem 8 anos....o que aconteceu à sessão da higiene? Ela ainda precisa que lhe relembrem de lavar os dentes...

R - "De SEXO! De onde vêm os bebés, como nascem, as diferenças no corpo dos rapazes e das raparigas."

A mãe - Algumas coisas já tinhas falado quando deste a função reprodutora não? E falaram mais de quê?

R - "De não aceitar boleia de estranhos, do facebook e da internet."

E avançou para a história que lhes contaram sobre uma menina que publicava fotos dela em frente à escola ou noutros locais facilmente reconhecíveis e com indicação da hora, e de como a seguiram até casa.
E foi esta parte que lhe ficou a martelar na cabeça....mais do que a tal das diferenças entre menino e menina. Ao jantar repetiu a conversa e a história da menina, apesar de começar a história sempre da mesma forma.
"SEXO"

Acho que aprendeu a captar a nossa atenção....




domingo, 12 de abril de 2015

That´s all folks


Ele há dias em que se alternam momentos de "Sim, nota-se que estão ali crianças a brincar", para momentos de silêncio.
Demasiado silêncio.
Daquele que nos leva a ir logo ver o que se passa....quase tão depressa como um grito ou um chamamento "Oh mãe!"!
Hoje foi mais ou menos assim. A estranheza do silêncio fez-me levantar para espreitar.
No silêncio descobri, duas meninas entretidas com as suas músicas preferidas.
No silêncio descobri o jogo das escondidas.
Assim como assim prefiro o barulho....controlado, pelo menos vou ouvindo as moças.

Mães, esse ser humano que nunca ninguém irá entender na totalidade.


sábado, 11 de abril de 2015

Um Sábado, véspera de Páscoa


No tal dia em que parecia que pairava sobre o nosso carro um helicóptero, houve muita coisa boa.
Foi Sábado de Páscoa.
Liga-se pouco a este Sábado. Acho que nem nome tem.
Fica ali algures depois do Domingo de Ramos, da Sexta Feira Santa e antes do Domingo de Páscoa e da Pascoela (que é já amanhã).

Ar de Primavera. Recantos. Pormenores. Castelo iluminado. Noite de Teatro. Encontro com amigas.
E tudo aqui por perto....
Mais um sítio novo em 2015!


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Ai ó pá!


Metes-te à estrada.
Autoestrada.
Está um belo dia de sol. Rumas a Leiria.
Levas duas meninas contigo. As tuas filhas.
Ligas a rádio.

Ouves um som estranho.
Parece um helicóptero a sobrevoar o carro.
Estranhas. Não há sinais de fumo por perto. Será do INEM?
Começas a olhar para cima e não vês nada que voe.

Será da música do rádio?
Desligas o rádio e lá está ele, o barulho estranho.

Ai ó pá, será um pneu?
Só me faltava esta agora....
Mas o som parece vir de cima.
Nota-se mais quando está mais vento, ou seja nas pontes e viadutos.
Manténs a velocidade no máximo permitido por lei.

Bem, não deve ser nada grave.
Pode ser das barras de tejadilho, pensas.
Segues. Esperançosa, porque não te apetece nada ter que chamar a assistência em viagem.

Chegas ao destino. Estacionas. Vais ver os pneus. Tudo OK.
Olhas para o tejadilho. Não tem as barras.
Ligas ao marido.

- "Olha lá, o carro faz assim um som estranho...."
- "Ah, é de uma chapita que aí está meia solta.... "

Menos mal. Pronto. Afinal ele sabe o que é. É só uma chapita...
Ficas logo mais descansada.
Podes pensar na viagem de regresso, sem receio do helicóptero.

A semana continua.
Pelos vistos a chapita continua solta.
O marido, entretanto, está noutro continente e a cerca de 4000 m de altitude.

Nota para marido:
"Olha e já agora, quando voltares a assentar os pés em território nacional e quase ao nível do mar, podes ir ver da chapita? É que nos paralelos parece que o carro se vai desmantelar a qualquer instante.."

Nota para quem me ouve:
Decidi procurar a tal da chapita insignificante, meia solta....
Espreitei para debaixo do carro. Nem precisei de me baixar muito....

"Ó homem, a tal da chapita toca praticamente no chão!!!!
Espero que desças ou vou à oficina?"

 







quinta-feira, 9 de abril de 2015

Era...


A Páscoa dos meus tempos era a época das limpezas de Primavera.
Daquelas em que se arrastavam móveis e até se lavavam os tetos!
Não se comia carne às sextas feiras durante a quaresma. Às vezes só me lembrava disso à noite depois de na escola já ter comido um croissant com fiambre. Deus já me deve ter perdoado.
Escolhiam-se roupas novas para estrear no Domingo.

Era cor.
O branco das paredes lavadas ou pintadas de fresco.
O vermelho das opas no compasso, por vezes num desbotado que parecia rosa.
Os verdes à porta de casa, salpicado pelo rosa escuro das camélias.
O pão de ló amarelo, graças às gemas caseiras.
O lilás das glicínias.
O rosa das amêndoas de açucar.
O roxo dos amores perfeitos e das ervilhas de cheiro.
As primeiras roupas coloridas depois de um inverno cinzento.

Era cheiro.
O ar fresco das casas.
A mesa posta.
O perfume das flores.

Era som.
Os foguetes anunciavam a saída da cruz da igreja.
O som da campainha que anunciava o compasso.
O burburinho das conversas sobre o tempo que demora a cruz, sobre onde já passou e a que casa irá a seguir.
As solas dos sapatos novos escada acima.
O "Aleluia Aleluia" acompanhado da benção.

Era tradição.
Havia a espera.
O beijar da cruz.
O cumprimentar os elementos do compasso com um aperto de mão.
O último senhor levava um saco de tecido vermelho, atado por um cordão.
Se na casa havia crianças deixava meia dúzia de amêndoas no branco imaculado da toalha bordada.

Depois de beijar a cruz na casa de uns avós, rumávamos a casa dos outros avós, pela Estrada Nacional.
Por todo o caminho íamos comentando "Aqui já passou", "Aqui ainda estão à espera".
Por todo o caminho havia verdes no chão e o tlim tlim tlim tlim que me ficou gravado na memória.
Na maioria das vezes chegávamos quase ao mesmo tempo que o compasso.
Outras, só mesmo a tempo do pão de ló com azeitonas e do espumante.

Era...
Não é que não o seja ainda.
Mas é cada vez menos.

Domingo, o da Páscoa, ficaram a faltar algumas cores, cheiros, sons e tradições.
Mas tivemos a toalha branca bordada, as glicínias e o pão de ló, não tão bonito por fora, nem feito com ovos caseiros, mas muito saboroso!






quarta-feira, 8 de abril de 2015

Ansiedades das boas


Ontem foi o 1º dia de aulas do 3º período.
Mais um arranque pós férias.

Apregoei nos últimos dias que era preciso começar a deitar cedo para recuperar o ritmo que o horário escolar exige. Entrar no esquema da sabedoria popular e deitar cedo e cedo erguer.
Nada valeu.
Deitavam-se tarde e a más horas. Mea culpa.
Acordavam ao sabor da vontade.

Na véspera o sono tardava em chegar.
A R andava às voltas com um dente quase a cair.
Deve ter-se entusiasmado com as visitas da fada porque de repente já o tinha na mão.
Faltava ainda pô-lo debaixo da almofada.
E às 23h num repente e de lágrima no olho lembrou-se dum TPC em falta...alguma página esquecida noutro livro. Tantos dias de férias para tratar disto.... Mas não.
Lá foi fazendo na véspera, na desportiva, literalmente em cima do joelho e em pose de ginasta...
Aquela hora já não havia nada a fazer. Qual página agora?!!?

Depois de tudo pronto, que é como quem diz, finalmente deitada e descansada (qb) com o assunto dos TPC´s suspirou.
 "Estou tão ansiosa por começarem as aulas...".
 - Ansiosa no bom ou no mau sentido?
 - "No bom, claro. No mau era nervosa mãe!!"

E no meio destas ansiedades positivas lá adormeceu.

Nestes entretantos andava a mais velha à voltas com a falta de sono.
Já nem ler lhe valia.
E não há como desistir de tentar dormir e ir fazer um snack tardio para enganar o sono.
Era 1 da manhá quando largamos o(s) puzzle(s) de 1000 peças que me ocupa(m) a mesa da sala de jantar. Palpita-me que ninguém janta na sala nos próximos 2 meses...

Finalmente tudo dormia.
E eu pensava... amanhã é que são elas....para as tirar da cama vai ser lindo....

Qual quê?!
Até parece que sou nova nisto.

Às 6h e picos acordou a R. Já não dormiu nada de jeito por entre a excitação da escola e a fada dos dentes, sem que eu distinguisse quem ganhava.

A I acordou com o despertador e saltou da cama num ápice. Pôs-se pronta e em três tempos estava a caminho da escola.

Tudo pronto a horas mais do que decentes.
Nada de atrasos, nem de avisos "vai lavar os dentes", nem de alertas amarelos "despacha-te".
Nada como um 1º dia de aulas para animar a "raparigada"!

Pior mesmo foi tirar-me a mim da cama!






quinta-feira, 2 de abril de 2015

Clássicos


A semana passada as miúdas viram pela primeira vez um filme a preto e branco.
Um daqueles clássicos portugueses que davam volta e meia na TV.
Tenho pena que agora sejam tão "clássicos" que já só há disponível em DVD´s como relíquias de colecionador. E são, de facto. Mas bem que podiam dar-lhes tempo de antena em horário nobre.
Mereciam!
Os mais famosos, dos quais sabemos frases, expressões ou palavras de cor como o "Chapéus há muitos seu palerma"; "Esternocleidomastoideu"; "Ó Evaristo tens cá disto?" esgotaram com pena minha.
Lembro-me bem do "Leão da Estrela", do "Costa do Castelo", do "Pátio das Cantigas" e do humor que acompanhava cada diálogo com um toque de subtileza e que não se desgasta com o tempo.

Ainda consegui arranjar "O Pai Tirano" com o seu ta tão, ta tão e o "Aniki Bobó".
As meninas viram com os avós o Aniki bobó numa sessão de matiné por casa.
Aproveitei a caixa para ler as informações sobre o filme e descobri que foi realizado pelo Manoel de Oliveira em 1941.
Não fazia a menor ideia.
As miúdas gostaram de ver o que prova que estes filmes são intemporais...

Posso dizer que já vi um filme dele.
Ainda bem que o ofereci ao meu pai a semana passada.
Agora vai esgotar de certeza!


Nos meus tempos da faculdade vi também "O convento".
Nem sei porque fui ver. Na altura corria o boato de que os filmes dele eram uma seca, parados, com diálogos monótonos e muito pausados.
Ainda assim fui ver.
Se calhar porque era com atores famosos (Catherine Deneuve, John Malkovich) não era em Português; Porque eu morava mesmo ao lado do cinema e sempre devia ser melhor do que ficar a estudar. Os meus colegas deviam achar-me doida....um filme do Manoel de Oliveira?! A sério?!
Achei que lhe ía dar uma oportunidade.
Confesso que no fim do filme julguei que era intervalo. Fiquei a achar que faltava o resto da história. É verdade que era lento, mas eu tinha 20 e poucos anos.
Não me lembro nada do filme a não ser dos atores, das paisagens da Serra da Arrábida e da praia.
Não posso dizer que fiquei fã. Não percebi o filme.
Concordei com o boato e nunca mais dei por mim a querer ver um filme dele.

Mas esta característica seria a imagem de marca do Manoel de Oliveira.
Talvez agora, com o dobro da idade o veja de outra forma.
Talvez seja preciso ver filmes calmos nestes tempos de stress.
Provavelmente temos que amadurecer para ver com olhos de ver.

Acho que um dia destes lhe vou dar outra oportunidade.
Ter feito o que ama até aos 106 anos, muitas vezes não compreendido por todos, e certamente não seguido por massas (pelo menos no seu próprio país).... é obra!

Parabéns Manoel de Oliveira!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Invasão


Fui à casa de banho de um centro comercial.
Cubículos contíguos, sem "parede" até ao teto ou até ao chão.
Ouço portas a fechar e sons de vozes.
Percebo que entra alguém no cubículo à minha esquerda, e alguém no cubículo à minha direita.
Pelos vistos conhecem-se.
Uma comenta que não há papel. A outra responde que já lhe vai passar algum.

A da direita estende a mão e pergunta "És tu que estás aqui?"
A da esquerda põe um pé e pergunta "Estás a ver o meu sapato?"
 
E eu ali. Olho para baixo e vejo uma mão à direita e um sapato à esquerda.
( Para melhor visualizar a imagem só mesmo com um desenho mas não tenho jeito...)

Ainda estive quase para interferir na conversa e dizer-lhes que estavam a invadir o meu cubículo.
Ou isso ou passar papel à senhora da direita.
E pregar-lhe um susto de morte e puxar-lhe a mão!? Isso é que era!

Mas elas lá perceberam depois de abanarem a mão e o pé uns segundos que não estavam uma ao lado da outra....

Nem num cubículo público fechado estou em paz e sossego!