Esta noite sonhei com a minha professora primária.
Só tive uma naqueles quatro anos.
A Irmã Catarina.
Sonhei com um fim.
Um fim que, em sonhos, se diz dar vida.
Acordei a lembrar momentos felizes.
Acordei com vontade de lhe agradecer tantas memórias que me fazem sorrir...
O dia em que recebi uns rebuçados porque fiz uma leitura de um texto muito bem.
O dia em que senti que o sol queimava a pele numa experiência que fizemos com uma lupa.
O dia em que fizemos esculturas em gesso.
Às vezes ela faltava e deixava o quadro cheio de trabalhos e tarefas.
Os campeonatos de tabuada rapazes vs raparigas.
Chamava-me Sofia porque havia outra Cláudia. Sófia às vezes, por brincadeira e dizia sempre que era a capital da Bulgária. Eu achava piada.
E é por tantas destas memórias que "A professora primária" nos marca para sempre.
Podemos vir a ter mais uma série de professores pela vida fora, e apesar de muitos ficarem na memória, serão raros os que ficarão no mesmo pé de igualdade.
Lembro-me do nome completo dela. Da cara. Do cabelo. De onde era.
Usava óculos e um fio com uma cruz.
Hoje apetecia-me abraça-la e dizer que a tenho sempre num cantinho especial do meu coração.
Tenho saudades do carinho com que nos sorria, do olhar que abraçava.
Hoje queria dizer-lhe que fui feliz naquela escola.
Obrigada Irmã Catarina por ter lá estado enquanto eu crescia.
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
"Recordar é viver"
Hoje a I perguntou o que acontece aos animais marinhos quando morrem.
"Ficam por ali a boiar? Afundam?"
Não sei. Nunca tinha pensado nisso.
Nem ela nem eu.
Presumo que sim, ficam ali, no mar.
Não se fazem funerais, não se enterram no quintal, não têm como destino a sanita, como os peixinhos de aquário...
Nunca parei para pensar o que acontece aos milhares de peixes mortos que dão à costa, ou às baleias.
Hoje li esta notícia . Morreu um dos golfinhos mais velhos do Sado.
Percebi então de onde tinha vindo a tal pergunta.
Lembrei-me que já os tínhamos visto.
Vasculhei aqui no arquivo. Setembro 2010. Quase 5 anos.
Naquele dia demoraram a aparecer.
Quando já tínhamos perdido a esperança e achávamos que pelo menos o passeio de catamaran tinha valido a pena, eis que nos brindaram com a sua graciosa e simpática presença.
Já não me lembro se algum dos que vimos era o patriarca.
É bom percorrer albuns nas pastas do computador.
Recordar as caras redondinhas, as mãos pequeninas...os sorrisos.
5 anos é muito tempo. 5 anos mudam-nos tanto.
Por dentro e por fora.
"Ficam por ali a boiar? Afundam?"
Não sei. Nunca tinha pensado nisso.
Nem ela nem eu.
Presumo que sim, ficam ali, no mar.
Não se fazem funerais, não se enterram no quintal, não têm como destino a sanita, como os peixinhos de aquário...
Nunca parei para pensar o que acontece aos milhares de peixes mortos que dão à costa, ou às baleias.
Hoje li esta notícia . Morreu um dos golfinhos mais velhos do Sado.
Percebi então de onde tinha vindo a tal pergunta.
Lembrei-me que já os tínhamos visto.
Vasculhei aqui no arquivo. Setembro 2010. Quase 5 anos.
Naquele dia demoraram a aparecer.
Quando já tínhamos perdido a esperança e achávamos que pelo menos o passeio de catamaran tinha valido a pena, eis que nos brindaram com a sua graciosa e simpática presença.
Já não me lembro se algum dos que vimos era o patriarca.
É bom percorrer albuns nas pastas do computador.
Recordar as caras redondinhas, as mãos pequeninas...os sorrisos.
5 anos é muito tempo. 5 anos mudam-nos tanto.
Por dentro e por fora.
sábado, 22 de agosto de 2015
Como se fosse ali
Falta-me...
O ar seco e o cheiro doce da alfarroba.
Os passeios pela marginal sem pressa. Sem objetivos. Só ir para lá e voltar para cá.
Decidir entre cone ou copo.
As bancas de colares e pulseiras, iluminadas por petromax. Ouvir o mar sem o ver.
A areia fina.
A terra laranja.
Mergulhar.
Os chinelos nos pés e o sal na pele.
Perder a noção dos dias.
Estender a toalha.
Desligar o despertador.
Tirar o relógio.
Rumar a sul.
Queria respirar Lagos.
Ir à Meia Praia, junto ao forte.
Mergulhar na Batata.
Calcorrear as ruas que conheço quase de cor.
Como se ali fosse a minha casa.
O ar seco e o cheiro doce da alfarroba.
Os passeios pela marginal sem pressa. Sem objetivos. Só ir para lá e voltar para cá.
Decidir entre cone ou copo.
As bancas de colares e pulseiras, iluminadas por petromax. Ouvir o mar sem o ver.
A areia fina.
A terra laranja.
Mergulhar.
Os chinelos nos pés e o sal na pele.
Perder a noção dos dias.
Estender a toalha.
Desligar o despertador.
Tirar o relógio.
Rumar a sul.
Queria respirar Lagos.
Ir à Meia Praia, junto ao forte.
Mergulhar na Batata.
Calcorrear as ruas que conheço quase de cor.
Como se ali fosse a minha casa.
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Coisas que são para ficar
É um bocadinho difícil para a R despegar-se de alguns dos seus pertences.
Não gosta de se separar de livros que já não lê, de calçado ou roupa que já não lhe serve. Pelo menos daquelas que como ela diz "Tem boas lembranças".
Na arrumação do quarto dela, tento que ela se desfaça de alguns bens materiais, numa esperança de destralhar. É uma tarefa sempre complicada...ou ela não gostava mesmo das coisas e aí não há problema, o que é raro....ou então quer guardar tudo para mais tarde recordar....e recordar...e recordar.
No top das coisas que ela quer guardar para todo o sempre está um fato de banho de elásticos peganhentos com a lycra a desfazer cujo destino seria lixo....mas ela descobriu a tempo e lá ficou em standby porque "tinha muito boas recordações dele".
Nesta tarefa de negociação que desgasta qualquer mãe sugeri que ela desse a outras crianças uma mala da Hello Kitty que ela já não usava muito até porque já nem é muito fã desta personagem.
Respondeu: "Oh mãe, essa não..."
Mas porquê R? Mais uma coisa a ocupar espaço....(e mais meia dúzia de rebéu béu beus numa tentativa de argumentação que eu sabia iria cair a qualquer momento).
R - "Essa não queria dar porque foi a Mia que me ofereceu."
Ela costuma lembrar-se quem lhe ofereceu as coisas, mas costuma ser ou a avó, ou a tia, ou o primo, ou amigos... e costuma ser também motivo para não as querer dar, porque acha sempre que a pessoa iria ficar triste se soubesse.
Não sei como a R se lembra de ter sido a Mia a oferecer-lhe aquela mala, no dia que fez 4 anos.
A Mia, é uma amiga minha. Era, talvez seja a palavra certa. Deixou-nos 1 ano e uns meses depois desse dia.
À R não consegui responder. Apanhou-me de surpresa. Esperava qualquer resposta, menos esta.
Estava preparada para argumentar...mas calei-me.
Sorri-lhe e disse que então só ía lavar a mala e guardar.
Fui ver as fotografias dos 4 anos da R. Eu achava que não tinha fotografias da Mia.
Afinal há coisas que eu também quero guardar.
Não gosta de se separar de livros que já não lê, de calçado ou roupa que já não lhe serve. Pelo menos daquelas que como ela diz "Tem boas lembranças".
Na arrumação do quarto dela, tento que ela se desfaça de alguns bens materiais, numa esperança de destralhar. É uma tarefa sempre complicada...ou ela não gostava mesmo das coisas e aí não há problema, o que é raro....ou então quer guardar tudo para mais tarde recordar....e recordar...e recordar.
No top das coisas que ela quer guardar para todo o sempre está um fato de banho de elásticos peganhentos com a lycra a desfazer cujo destino seria lixo....mas ela descobriu a tempo e lá ficou em standby porque "tinha muito boas recordações dele".
Nesta tarefa de negociação que desgasta qualquer mãe sugeri que ela desse a outras crianças uma mala da Hello Kitty que ela já não usava muito até porque já nem é muito fã desta personagem.
Respondeu: "Oh mãe, essa não..."
Mas porquê R? Mais uma coisa a ocupar espaço....(e mais meia dúzia de rebéu béu beus numa tentativa de argumentação que eu sabia iria cair a qualquer momento).
R - "Essa não queria dar porque foi a Mia que me ofereceu."
Ela costuma lembrar-se quem lhe ofereceu as coisas, mas costuma ser ou a avó, ou a tia, ou o primo, ou amigos... e costuma ser também motivo para não as querer dar, porque acha sempre que a pessoa iria ficar triste se soubesse.
Não sei como a R se lembra de ter sido a Mia a oferecer-lhe aquela mala, no dia que fez 4 anos.
A Mia, é uma amiga minha. Era, talvez seja a palavra certa. Deixou-nos 1 ano e uns meses depois desse dia.
À R não consegui responder. Apanhou-me de surpresa. Esperava qualquer resposta, menos esta.
Estava preparada para argumentar...mas calei-me.
Sorri-lhe e disse que então só ía lavar a mala e guardar.
Fui ver as fotografias dos 4 anos da R. Eu achava que não tinha fotografias da Mia.
Afinal há coisas que eu também quero guardar.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Ó Póvoa!
Se a praia está por perto, e o mar se sente na nortada....cheira a Póvoa!
Enquanto houver mar estou bem.
Sou do Norte.
Onde as localidades não dão intervalo às placas de identificação. Apresentam-se umas a seguir às outras e é quase tudo plano. Onde há sotaque e as gentes têm sangue na guelra e o coração na boca, mas me parecem mais pessoas!
Fui deixar as meninas à praia.
À minha praia. À casa da minha infância.
Antes de regressar à base, ainda fui espreitar o mar.. Não resisto.
Tenho saudades
De fazer sandálias com sargaço.
De me embrulhar em várias toalhas depois de mergulhos gelados, mesmo em dias de nevoeiro.
De encontrar as cadeiras da praia sempre iguais, sempre na mesma posição, a indicar que ainda não chegaram os donos provisórios, ou que a praia fechou por hoje.
Das riscas das barracas. Azuis ou verdes.
Da areia grossa.
De procurar beijinhos e búzios.
Da saída quase em debandada ainda cedo. Quase ninguém fica para o pôr do sol. Arrefece.
Do verão que não se faz sem um casaquinho.
Das gaivotas que chegam quando a praia fica vazia.
Do mar que se conhece mas se respeita.
Até da nortada que carrega o cheiro a maresia e onde os papagaios de papel conseguem voar, mesmo sem a perícia necessária.
Lá estão elas. Naquilo a que chamo a vacina anti gripe anual.
Há lá melhor que o pack água fria; iodo; nevoeiro matinal e nortada?
Recomendado há anos e anos pelos pediatras e médicos da região!
Em miúda era assim o julho inteiro!
quinta-feira, 9 de abril de 2015
Era...
A Páscoa dos meus tempos era a época das limpezas de Primavera.
Daquelas em que se arrastavam móveis e até se lavavam os tetos!
Não se comia carne às sextas feiras durante a quaresma. Às vezes só me lembrava disso à noite depois de na escola já ter comido um croissant com fiambre. Deus já me deve ter perdoado.
Escolhiam-se roupas novas para estrear no Domingo.
Era cor.
O branco das paredes lavadas ou pintadas de fresco.
O vermelho das opas no compasso, por vezes num desbotado que parecia rosa.
Os verdes à porta de casa, salpicado pelo rosa escuro das camélias.
O pão de ló amarelo, graças às gemas caseiras.
O lilás das glicínias.
O rosa das amêndoas de açucar.
O roxo dos amores perfeitos e das ervilhas de cheiro.
As primeiras roupas coloridas depois de um inverno cinzento.
Era cheiro.
O ar fresco das casas.
A mesa posta.
O perfume das flores.
Era som.
Os foguetes anunciavam a saída da cruz da igreja.
O som da campainha que anunciava o compasso.
O burburinho das conversas sobre o tempo que demora a cruz, sobre onde já passou e a que casa irá a seguir.
As solas dos sapatos novos escada acima.
O "Aleluia Aleluia" acompanhado da benção.
Era tradição.
Havia a espera.
O beijar da cruz.
O cumprimentar os elementos do compasso com um aperto de mão.
O último senhor levava um saco de tecido vermelho, atado por um cordão.
Se na casa havia crianças deixava meia dúzia de amêndoas no branco imaculado da toalha bordada.
Depois de beijar a cruz na casa de uns avós, rumávamos a casa dos outros avós, pela Estrada Nacional.
Por todo o caminho íamos comentando "Aqui já passou", "Aqui ainda estão à espera".
Por todo o caminho havia verdes no chão e o tlim tlim tlim tlim que me ficou gravado na memória.
Na maioria das vezes chegávamos quase ao mesmo tempo que o compasso.
Outras, só mesmo a tempo do pão de ló com azeitonas e do espumante.
Era...
Não é que não o seja ainda.
Mas é cada vez menos.
Domingo, o da Páscoa, ficaram a faltar algumas cores, cheiros, sons e tradições.
Mas tivemos a toalha branca bordada, as glicínias e o pão de ló, não tão bonito por fora, nem feito com ovos caseiros, mas muito saboroso!
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Lugares
Há lugares aos quais pertenço.
Que não me pertencendo me acolhem como se fossem meus.
Que têm sabor a casa, a regressos.
Reconheço-lhes as cores e os cheiros, algures arquivados na memória.
Lagos é para mim um desses lugares.
Recordo uma estação de comboios onde lia à sombra, nas horas da digestão, em tempos em que o dia era passado na praia. Talvez o seu tamanho não lhe concedesse o estatuto de estação e fosse apenas um apeadeiro.
Uma casinha pequena azul e branca ali mesmo no meio da Meia Praia, pertinho do Forte.
Do Forte ainda encontrei esta imagem que não é minha e já mostra o que os anos lhe fizeram.
Da estação não há nenhuma imagem, a não ser as que guardo na memória.
Um único banco. Talvez dois. Raramente ocupado(s).
Talvez o comboio passasse umas duas vezes por dia. Ou só uma vez por semana.
Talvez alguém estranhasse eu nunca entrar nele.
Nunca a fotografei, nunca o meu pai a fotografou.
Longe da era digital, um rolo durava umas férias....não se "gastavam" fotografias em apeadeiros!
Talvez achasse(mos) que estaria sempre lá. Tinha(mos) tempo.
Num dos regressos, fiquei mais pobre.
Não me lembro o que havia no seu lugar.
Só sei que já lá não estava.
Nem a casinha, nem o banco, nem os azulejos azuis e brancos que lhe davam o nome "Meia Praia".
O que eu gostava de ter uma fotografia...
Esta lembrança veio a propósito da Ponta da Piedade em Lagos ter sido considerada pelos senhores do The Huffington Post, como das mais belas praias do Mundo!!
E não conhecendo todas as do mundo talvez não me atreva a atribuir-lhe eu própria esse mérito. Mas só porque não conheço todas.
Adorava as caminhadas até à Ponta da Piedade; os imensos degraus em serpentina; o farol; a paisagem; a cor da água; o som das cigarras; o cheiro doce a alfarroba.
De Lagos só tenho fotografias em papel e negativo.
E isso significa muitos anos de ausência.
Tenho saudades de Lagos e da calma e lembranças que me traz.
Que não me pertencendo me acolhem como se fossem meus.
Que têm sabor a casa, a regressos.
Reconheço-lhes as cores e os cheiros, algures arquivados na memória.
Lagos é para mim um desses lugares.
Recordo uma estação de comboios onde lia à sombra, nas horas da digestão, em tempos em que o dia era passado na praia. Talvez o seu tamanho não lhe concedesse o estatuto de estação e fosse apenas um apeadeiro.
Uma casinha pequena azul e branca ali mesmo no meio da Meia Praia, pertinho do Forte.
Do Forte ainda encontrei esta imagem que não é minha e já mostra o que os anos lhe fizeram.
Da estação não há nenhuma imagem, a não ser as que guardo na memória.
Um único banco. Talvez dois. Raramente ocupado(s).
Talvez o comboio passasse umas duas vezes por dia. Ou só uma vez por semana.
Talvez alguém estranhasse eu nunca entrar nele.
Nunca a fotografei, nunca o meu pai a fotografou.
Longe da era digital, um rolo durava umas férias....não se "gastavam" fotografias em apeadeiros!
Talvez achasse(mos) que estaria sempre lá. Tinha(mos) tempo.
Num dos regressos, fiquei mais pobre.
Não me lembro o que havia no seu lugar.
Só sei que já lá não estava.
Nem a casinha, nem o banco, nem os azulejos azuis e brancos que lhe davam o nome "Meia Praia".
O que eu gostava de ter uma fotografia...
Esta lembrança veio a propósito da Ponta da Piedade em Lagos ter sido considerada pelos senhores do The Huffington Post, como das mais belas praias do Mundo!!
E não conhecendo todas as do mundo talvez não me atreva a atribuir-lhe eu própria esse mérito. Mas só porque não conheço todas.
Adorava as caminhadas até à Ponta da Piedade; os imensos degraus em serpentina; o farol; a paisagem; a cor da água; o som das cigarras; o cheiro doce a alfarroba.
De Lagos só tenho fotografias em papel e negativo.
E isso significa muitos anos de ausência.
Tenho saudades de Lagos e da calma e lembranças que me traz.
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