Entre mães e filhos há um processo de transparência.
Cheguei a pensar que tinha só um sentido. Que elas eram transparentes aos meus olhos. Porque lhes conheço as manias, os sobrolhos franzidos, porque lhes adivinho as perguntas apenas quando dizem "Mãe!", porque lhes conheço as vontades, os receios, o que as faz feliz, porque ainda me escondem pouco...
Mas afinal é de duplo sentido.
Nós também somos transparentes. Mais do que pensamos.
Não adianta disfarçar, forçar sorrisos, porque entre os nossos suspiros, há olhares muito atentos.
Olhares tipo radar que sabem que há dias que carregamos o mundo nas costas, e que esse peso nos muda para além da expressão facial, o estar e o sentir.
E esse peso por vezes atenua-se porque uma criança é sincera e ama sem reservas.
Quando ouço "Estás triste hoje?"; "Tiveste um mau dia?"; "Estás cansada?", o mundo desaba aos meus pés porque não devia ser transparente....
Mas depois recebo abraços de conforto vindos do nada. E transforma-se de repente no melhor do meu dia. O resto fica para trás, dissipa-se.
Se calhar este processo de transparência é suposto ser assim, retemperador e salutar para ambas as partes...
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