sexta-feira, 11 de abril de 2014

Quando fico a matutar....

Na sala de espera das Urgências do Hospital Pediátrico, dou comigo a olhar em volta.
Não há muito mais a fazer...
A imaginar o que levou aquelas pessoas ali.
Que dores terão os seus meninos.
Porque é que às vezes estão 4 adultos para uma criança.
Sei lá, tudo o que me vem à cabeça.

(Faz-me lembrar uma senhora sábia nas palavras, que imaginava  histórias complexas sobre as famílias que almoçavam em mesas vizinhas num qualquer restaurante. Uma avó que não era minha)

Pais e mães entediados pela espera. Semblante carregado. Preocupações.
Miúdos corados pela febre. Irrequietos. Choraminguices. Queixumes.
Em contraste, crianças cheias de energia vs pais esgotados.
(Chego a pensar que os pais têm "pior aspeto" que as crianças e que estão no hospital errado)

Havia uma mãe que não queria que a filha dormisse.
Isto ao mesmo tempo que eu dizia à minha para dormir.
Ouvia a dizer "Eu dou-te colo mas não podes dormir!"
(Isto do não dormir só associo aqueles acidentes em que se tenta manter a pessoa desperta para manter a consciência...)
Não me parecia o caso. Fiquei a pensar porquê. Vá-se lá entender. Até a R estranhou...

Havia uma senhora e uma criança (não sei se mãe e filha). Com elas estava um senhor de mais idade (talvez avô ou talvez o senhor que as conduziu até lá).
Só sei que enquanto todos os outros íam vigiando, mimando, lançando olhares preocupados, pondo a mão na testa para ver a evolução da febre, dando colo, adoptando posições terríveis nas cadeiras para que as crianças dormitem enquanto esperam, andando para cá e para lá de filhos nos braços, mudando de posição para aguentar as dores nas costas.....
...ali havia algo de estranho....não havia olhares de lado uma para a outra, nem colo, nem cumplicidade, nem mimo, nem uma festa no cabelo, nem sequer palavras de conforto, a não ser uma pergunta da menina "Posso tirar o casaco?" e um aceno positivo de resposta.

Essa menina, demasiado bem comportada na cadeira, olhava para as outras crianças e mães.
Àquela hora (1h30) todas já dormiam ao colo ou encostados à mãe ou pai....reparei então que a menina inclinou a cabeça na direção da senhora (talvez numa tentativa de se encostar). Não obteve reação....a tal senhora continuava de braços cruzados a olhar em frente para o relógio, ou a mexer no telemóvel.
A preocupação era evidente, mas com o tempo....o tempo que ía demorar, as horas, o regresso, o transporte. Nunca tirou o casaco.
Tirando a pergunta da menina, nunca mais falaram.

Fiquei a matutar...

Quando as chamaram, a senhora levantou-se e foi, sem olhar para trás.
A menina seguiu-a. O senhor desapareceu.
Vi-as sair do consultório. Senhora à frente. Menina a segui-la.
Esperavam à porta pelo transporte.
Falavam, mas não ouvia o que diziam.
Estavam frente a frente. Sem contacto físico.
Senhora de braços cruzados.
Menina com a mão na garganta. Parada, às 2 da manhã, de pé....à espera.

Fiquei a matutar...

Podiam não ser mãe e filha. Mas ainda assim fiquei inquieta...
Neste tempo, enquanto matutava, a R dormiu no meu colo.


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