segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"Por onde me dão."

Há dias em que me apercebo do que cresceram pelas calças que ficam curtas, pelos sapatos que deixam de servir, pela cobiça pelas minhas roupas, pelo espaço que ocupam na cama, principalmente quando se espreguiçam.
Lá vai o tempo em que cada uma podia estar encostada no seu braço do sofá, sem que os pés se encontrassem ao meio. Agora os pés e parte das pernas passam a linha invisível que separa os dois lados do sofá. O espaço que havia no meio para mim vai encurtando.

Há uma resposta tipíca de mãe (das babadas) para quando nos perguntam pelos filhos, pelo tamanho deles, quando nos dizem "imagino que estejam enormes" e nós dizemos com aquele orgulho que não se mede "Já me dá por aqui" e vamos apontando para as diversas partes do nosso corpo por onde os filhos nos dão.
Passei algum tempo a dizer que a I me dava por aqui, apontando para a base do pescoço.
Nem eu tinha ainda reparado que o "por aqui" já há muito tinha passado a linha do queixo.
Daqui a nada não me dá por lado nenhum. Vai-me ultrapassar.
Sei que hei-de acompanhar a frase "Está uma crescida" com o gesto da mão a passar por cima da minha cabeça, quando me perguntarem por ela.

A R vai subindo mais lentamente. Ela própria mede as suas conquistas em altura pelos armários da casa, pela bancada da cozinha, pelas prateleiras onde já chega sem um banco e por mim.
Gosta de ver por onde me dá, como se eu fosse uma régua daquelas que se penduram nos quartos das crianças, onde se registam etapas, ou das que há no pediatra para a curva do percentil. Encosta-se a mim e já é ela a dizer "Já te dou por aqui!".

E é também neste por onde me dão, que me apercebo do que crescem.
E do que enquanto crescem, eu aprendo.
Penso nas regras, nas que tentei, nas que nunca implementei, nas que deixo cair por terra.
No que gostava de ter feito melhor. No que se pudesse mudava.
No que ainda vou a tempo. Nas certezas que conquisto.

E quando adormecem e deixamos para trás a lufa lufa do dia, naquele instante em que parece que me dão só pela cintura, estas são as certezas que tenho.

- Dá-lhe colo mesmo que ela não peça.
- Deixa-a soprar a espuma do banho para o teu cabelo.
- ACREDITA nela.
- Diz-lhe que chorar às vezes faz bem.
- Limpa-lhe as lágrimas.
- Aperta-a de mimos.
- Abraça-a.
- Acorda-a devagarinho.
- CUMPRE as promessas.
- Dá-lhe a mão para dormir.
- Sorri-lhe.
- Não desvalorizes o que lhe vai na alma.
- Ouve-a.
- Acalma-a.
- Diz NÃO quando for preciso.
- Diz-lhe que gostas dela. Muito. Muitas vezes. 
- Faz-lhe um curativo mesmo que a ferida seja pequena.


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