sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Mix

Mix de emoções
by R

No fim do banho a R vai buscar umas cuecas à gaveta.
Ouço "Mãe, o que é Lunes?! E Marles?".
Suspiro. Mas porque é que comprei um pack de cuecas com os dias da semana....
Sim porque naquela cabecinha não se pode vestir a uma terça uma coisa que diz sexta!
Das duas uma ou ensinamos às crianças os dias da semana em espanhol e francês, ou é desistir desta ideia estranha da roupa interior agendada. 

 

Sentadas no sofá lado a lado. Eu e a R.
"Mãe, podes vir para o pé de mim?".
Olho para o lado. Estamos coladas.
Só se for mesmo para cima dela. Encostado mais encostado não dá!
O pai costuma dizer que ela ainda tem o cordão umbilical e por isso não se pode afastar muito.
Vai atrás de mim para todo o lado! Literalmente!


Manhã de verão. 
R na minha cama a acordar devagarinho comenta "Hoje está a chover tanto...".
Eu não ouço nada....
Afinal, era o pai a tomar banho. 
Mas até podia ser chuva que este verão foi estranho.

 

Livros de anedotas para crianças.
Adora ler para mim.
Rio-me muito com algumas.
Ela ri-se só porque me rio.
Depois quando pergunto: Percebeste?
Ela responde "Não!"
Ainda me rio mais.
E ela também.
E continua sem perceber a anedota.


Suspira. 
"Passa tão depressa!"
 - O quê, o dia?!
"Já tenho 8 anos!"
E eu então que direi?!?!??! Já lá vão mais de três dúzias deles!


Geralmente quer fazer sozinha o que não é suposto.
É capaz de arrastar uma cadeira para ir ao frigorífico buscar um jarro com água fresca, pesado e de vidro colocado na prateleira mais alta, mas depois diz que não consegue calçar um par de meias.


Ao adormecer.
"Um dia vou ficar sozinha"
Sozinha como?
"Sou a mais nova..."
(Nesta altura comecei a nem querer acompanhar o raciocínio dela. Há coisas que fingimos não querer perceber)
"Sim, como sou a mais nova, vocês vão morrer primeiro que eu...e a mana também. 
Depois fico sozinha"
Depois de respirar fundo, engolir em seco e pestanejar para afastar as lágrimas, consegui dizer-lhe que nessa altura ela poderia ter a sua própia família, a que iria construir com alguém e ter os seus próprios filhos. Que quando temos amigos verdadeiros não estamos sozinhos. 
Mas entendi-a.
É dificil pensar e aceitar como certo um futuro que ainda não existe. 
No presente, a família que tem é esta.



É assim a minha R, independente só no que lhe dá jeito, com relação umbilical para tanta coisa, senhora do seu nariz, irrequieta, risonha.

Capaz de nos arrancar a maior gargalhada e logo a seguir fazer-nos encolher a alma até doer.



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