sábado, 22 de março de 2014

Breath!


Desci ao piso -1.
Abaixo do chão. (mais uma vez como a Alice, e novamente sem cair num buraco)

Senti-me imediatamente assim. Longe, ainda que incrivelmente perto.


Fechei toda a realidade num armário. Guardei a chave que me afastava dela no bolso.
Durante 3h e meia tinha todo o tempo do mundo. Mimos. Daqueles que achamos um luxo.
Dos que adiamos.

Todo o tempo para mim. Todo o tempo para fazer nada. O mundo continuava lá no armário.

Ainda assim ocupo-me.
Ocupo-me a libertar a mente, o que não é fácil e demora o seu tempo. Até isso me rouba tempo.
Ocupo-me a pensar que não controlo o tempo, que também o relógio ficou fechado.
Ocupo-me nas perguntas de quanto tempo passou, quanto tempo falta, que horas são...
Ocupo-me até a pensar "Ainda bem que me lavei atrás das orelhas!".
Rio-me de e para mim.

Chove durante a hora do chá. Cheira a menta. Ainda tenho a chave no bolso.
Estou sozinha comigo. Mas não necessariamente só.

Recuso mais um chá.
Pego na chave e abro o armário que guarda o mundo e o tempo. O tempo não parou.
Talvez pela falta de hábito, esqueço-me que o regresso ao mundo implica uns retoques.
Que entrar de cara lavada é estranho.

Subo à superfície.
Saio e chove.
Respiro.
Muda a música, mas continuo noutro mundo.
Não estou pronta para a entrada brusca na realidade das rotinas.

Mudo do chá para café e começo a despertar com o cheiro a canela.
Há muito que queria aqui vir.
A música mudou mais uma vez.

Misturam-se vozes com a música e o estaladiço da torrada.
Já tenho relógio.
Continuo com tempo.
Mas agora contado e com hora marcada.
A realidade já deu sinais de si. 1sms; 2 chamadas não atendidas. O que será que me queriam?

Ouço falar de livros. Esse outro  mundo onde gosto de estar, sem sentir que perco tempo.
Conheço-a não sei de onde. Não me consigo lembrar.
Fico curiosa
"Esse é um dos melhores dela, talvez até o melhor e é muito difícil de encontrar", diz.
Vendeu-o.
"Era exemplar único! Só havia aqui!"
Mais curiosa fico.
Continuo sem saber quem é. Nem a senhora que vende nem a escritora.

Fecha-se a cortina.
A senhora sai.
Acaba-se o tempo.
Escurece.
Tenho de ir.
Espera-me o mundo. O meu.







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