quinta-feira, 1 de maio de 2014

Lugares

Há lugares aos quais pertenço.
Que não me pertencendo me acolhem como se fossem meus.
Que têm sabor a casa, a regressos.
Reconheço-lhes as cores e os cheiros, algures arquivados na memória.

Lagos é para mim um desses lugares.
Recordo uma estação de comboios onde lia à sombra, nas horas da digestão, em tempos em que o dia era passado na praia. Talvez o seu tamanho não lhe concedesse o estatuto de estação e fosse apenas um apeadeiro.
Uma casinha pequena azul e branca ali mesmo no meio da Meia Praia, pertinho do Forte.


Do Forte ainda encontrei esta imagem que não é minha e já mostra o que os anos lhe fizeram.
Da estação não há nenhuma imagem, a não ser as que guardo na memória.

Um único banco. Talvez dois. Raramente ocupado(s).
Talvez o comboio passasse umas duas vezes por dia. Ou só uma vez por semana.
Talvez alguém estranhasse eu nunca entrar nele.

Nunca a fotografei, nunca o meu pai a fotografou.
Longe da era digital, um rolo durava umas férias....não se "gastavam" fotografias em apeadeiros!
Talvez achasse(mos) que estaria sempre lá. Tinha(mos) tempo.

Num dos regressos, fiquei mais pobre.
Não me lembro o que havia no seu lugar.
Só sei que já lá não estava.
Nem a casinha, nem o banco, nem os azulejos azuis e brancos que lhe davam o nome "Meia Praia".

O que eu gostava de ter uma fotografia...

Esta lembrança veio a propósito da Ponta da Piedade em Lagos ter sido considerada pelos senhores do The Huffington Post, como das mais belas praias do Mundo!!

E não conhecendo todas as do mundo talvez não me atreva a atribuir-lhe eu própria esse mérito. Mas só porque não conheço todas.
Adorava as caminhadas até à Ponta da Piedade; os imensos degraus em serpentina; o farol; a paisagem; a cor da água; o som das cigarras; o cheiro doce a alfarroba.

De Lagos tenho fotografias em papel e negativo.
E isso significa muitos anos de ausência.
Tenho saudades de Lagos e da calma e lembranças que me traz.

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