quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dar o litro.


Estou de rastos.
Não de cansaço. Ou melhor, não só de cansaço.
De uma dor que não deixa respirar.
Dor de mãe.

Mais uma vez digo NÃO TENS CULPA!

Alguém tem com toda a certeza uma culpa do tamanho do mundo. Mas não és tu!
E eu tenho tanto medo de estar a fazer tudo mal.
Medo que afinal a culpa, longe de morrer solteira, seja afinal minha.
Medo de te baralhar ainda mais sempre que tento explicar o que quer que seja.
Medo da impotência de não saber como parar as lágrimas do teu desespero. Do teu medo. Medos.

Digo vezes sem conta "Está tudo bem!" e tu respondes "Mas tenho medo!"
É uma angústia que não se mede.
Uma dor que não desaparece, porque não posso fazer promessas.
Porque na verdade eu não sei se está tudo bem.

Passa da meia noite. A R adormeceu há pouco.
Mais uma vez os TPC´s ficaram a meio.
Outra matéria nova. Os meios litros e quartos de litro.
O querer fazer tudo até ao fim. Dar o litro.
Usei copos medidores e marcadores de acetato.
Faltava uma página. Já choravas e baralhavas tudo.
Sugeri deixar tudo como estava.

Chegaram vários medos, que a noite sempre agrava.
Medo do que a professora vai dizer porque não tens por hábito falhar.

Será que quem teve esta ideia iluminada de um programa a metro para crianças deste tamanho e tenra idade passa 1h30 a dizer aos filhos que não têm que ter medo, que está tudo bem, que podem dormir descansados, que não precisam de saber tudo de uma vez só?
Será que estes senhores se deitam sem pesos na consciência?
Será que pensam que é isto que fará destas crianças os grandes homens e mulheres do amanhã?
Será que não entendem a pressa com que os professores tem que andar com a matéria para  que cumpram um programa?

Senhores iluminados:
A R é uma miúda ativa, bem disposta, cheia de energia.
Está na escola até às 17h30.
Tem fisioterapia logo a seguir, não por opção.
Alguns dos fins de tarde ainda preenche com algo que adora, a ginástica.
Quase todos os dias tem TPC´s como sempre teve.
A diferença é que sempre os fez em 5 minutos, sempre os soube fazer.
Agora nem sempre consegue.
Sempre teve uma grande autoconfiança.
Sinto que a está a perder.
Anda nervosa. Triste. Insegura.

Chorou sem conseguir acalmar das 23h às 00h35!
Senhores das ideias iluminadas, sabem fazer contas?
Sabem quanto tempo de sono ela vai ter esta noite?
Não queria ouvir uma história, nem falar das várias hipóteses de bolo para o aniversário, nem ouvir uma música. Nada. E era isto que devíamos estar a fazer em vez de limpar lágrimas.

Estou cansada mas não consegui ir dormir.

Falta-lhe uma leva de testes.
Falta menos de um mês para acabar o ano.
Anda tudo cansado de dar o litro.
Está quase R!








Sem comentários :

Enviar um comentário