sábado, 7 de janeiro de 2017

Ser criança hoje em dia.

Primeira semana do ano. Fui buscar as notas da R depois de as ter visto na pauta.
De todas, intrigava-me mais o 3 a Formação Cívica do que o 3 a Matemática.
Ouço: Faladora. Distraída. Não pára quieta. Não se senta como deve ser. Mexe-se muito na cadeira. Interrompe. Quer ser sempre ela a falar.
Leio: "Nem sempre foi respeitadora para com os outros."

O que ouço não me surpreende. Conheço-a. Preocupo-me com o que leio. Conheço-a.
Converso com ela.
Ela diz que vai melhorar. Que vai conversar menos. Que vai tentar sentar-se mais direita. Promete que vai ter um 4 no próximo período.

No mesmo dia, um colégio do nosso País proibiu as crianças de correrem por entender que "correr, sem perceber os riscos que se corre, é falta de responsabilidade", acrescentando, "quer chova ou faça sol." e ainda "o bem estar e a saúde dos alunos é nossa prioridade".

Andei num colégio. Tinha um grande recreio, grandes salas e longos corredores. Havia regras, zonas de acesso condicionado, espaços que apelavam mais ao silêncio e algum sossego. Aprendemos a respeitar, a saber estar conforme o local. Crescemos. Não me lembro de nos proibirem expressamente de correr. Aliás das memórias que tenho é descermos as escadas em grande velocidade e atropelos para ver quem chegava primeiro ao recreio. Fazíamos corridas com pneus movidos a paus. Saltávamos ao elástico. E, imagine-se, transpirávamos! O mal que isto devia fazer à nossa saúde.
Xiii....mas que irresponsáveis éramos nós... ou quem permitia que isso acontecesse...
O colégio até tinha uma enfermaria onde uma freira simpática desenhava o sol e estrelas a mercúrio nos joelhos esmurrados. Suponho que isso agora não seja necessário.

Talvez neste século se tenha mudado a definição de criança e eu não me apercebi. O ser irrequieto passou a ser uma doença. Os bichos carpinteiros estão em vias de extinção. Já não há crianças com nódoas negras nas canelas e joelhos esfolados. A indústria dos pensos rápidos deve andar a passar um mau bocado...

Percebo que se tenha que saber estar, que as regras sejam para cumprir, que se eduque. Não só percebo como acho ESSENCIAL. Em casa é isso que incutimos. Todos os dias.  E sublinho!!!
E defendo que a educação vem de casa!

A minha filha canta todo o dia. Faz ginástica acrobática e dança. O corpo pede-lhe movimento. Tem uma escoliose que lhe faz doer as costas quando não se estica. Tem muitas vezes contraturas musculares. Faz amizades com facilidade. É popular. É amiga do amigo. É bem disposta. Fala alto.
Dá trabalho?
Sim, muito!
É mais fácil proibir?
Sem dúvida.
Se resulta proibir?
Não sei...

Corrijo-lhe a posição à mesa quase todas as refeições. Digo-lhe para falar baixo muitas vezes. Repreendo-a por interromper conversas. Aviso-a quando acho que está a ser respondona. Mando-a estar quieta no sofá umas 500 vezes durante uma série de TV. Se ela fosse uma estátua era bem mais fácil...

Desculpa R se a culpa é minha por te ter levado a passear no dia 31 de dezembro. Se te deixei molhar os pés no mar num dia de inverno, quase ao fim do dia. Se te dei a entender que era normal vestir um fato de banho e mergulhar. Se te deixo saltar. Se te incentivo a fazer o que gostas. Se dia 2 janeiro em vez de acalmar todo o dia no sofá te levei a saltar trampolins e chegamos a casa tarde, quando no dia a seguir começava a escola. Desculpa se dia 3 foste agitada para a escola e com vontade de contar aos teus amigos como foram as férias e a época festiva.

R, não tenho a menor dúvida que sejas uma miúda 5*, da mesma maneira que sei desde sempre que nos dás (e darás) muito "trabalho"!
Estamos cá para isso!


Sem comentários :

Enviar um comentário