sábado, 8 de agosto de 2015

Balanço de uma viagem mãe & filha

Afinal era eu a mãe.
Sempre que lhe perguntava qualquer coisa, ou começava uma frase por "nem sei..." ela dizia " Não sei, a mãe és tu!".
Estou habituada a partilhar decisões. Onde vamos agora, onde almoçamos, jantamos aqui ou acolá, sentamos na esplanada, valerá a pena ir a este ou aquele museu...
Nunca tinha feito uma viagem sendo a única adulta.
Desta vez era só eu a liderar, e ela agarrava-se à segurança das minhas decisões.
O calor trouxe-lhe algumas tonturas e tensão baixa, mas competia-me a mim desvalorizar, dizer que era normal, parar para beber água, não perguntar mil vezes se ela se sentia bem (tentei pelo menos).

Percebi que tinha que transmitir segurança.
Não podia levar muito tempo a perceber onde eram as linhas, ou a duvidar em voz alta qual seria o comboio, ou o barco.
Ensinei-a no metro a escolher o sentido, e como se vão vendo as paragens.
No aeroporto, a descobrir a porta de embarque no painel de informações.
Na estação, a comprar bilhetes nas máquinas de venda automática e a ver os horários dos comboios.
Nos restaurantes, a olhar primeiro para a ementa antes de decidir por um ou outro.

Ela ouviu sempre tudo em inglês, italiano, italianês...
Foi percebendo tudo. Atreveu-se a falar noutra língua. Tomou-lhe o gosto. Sentiu-se turista.

Ficam sem imagens alguns momentos...como a noite em que dormimos de toalha na cabeça, a tapar as orelhas, porque a I viu uma barata....no meu pescoço!
Isto depois de termos ido à receção e estarmos a traduzir no google de português para italiano o nome de alguns insetos. E foi na parte das imagens que a I descobriu um bicho parecido ao que patinhou pelo meu pescoço. Descobrimos que barata é um scarafaggio, que centopeia é millepiedi ...e ficamos por aqui. Foi o suficiente para o senhor da receção ir de lanterna na mão procurar a barata por cada recanto do quarto. Abanou cortinas, levantou tapetes, espreitou debaixo da cama, arrastou móveis....Meia hora depois e sem barata à vista deixou a lanterna connosco.
Só nos restava lavar o cabelo. A barata nunca mais se viu.

Com adultos amigos ou como casal, parámos para uma cerveja ou um café, que pode demorar mais do que 15 minutos. Com crianças, ou pré adolescentes, parámos numa esplanada para descansar e recarregar baterias, mas não há lugar ao "aboborar". Acaba-se a garrafa de água e está na hora de levantar e ir.

Quando vi as fotos da I percebi que ela viu coisas que eu não vi. Pormenores que lhe chamaram a atenção. Éramos duas ali, mas havia dois em casa. Ela tirava fotos para depois mostrar à irmã...coisas do tipo como se chamam em Itália os gelados "Olá", as ambulâncias e a recolha de lixo em forma de barco. Escolheu souvenirs. Comprou massa para cozinhar para o pai em Portugal.

Foi sem dúvida alguma uma grande companheira de viagem.
Tenho a certeza que o bichinho de viajante está lá....Mea culpa.
Depois de algumas dúvidas iniciais sobre irmos só as duas....só sei dizer que esta viagem é nossa.
Não sei se algum dia repetiremos uma viagem só as duas.
Talvez sejam elas a viajar as duas juntas.
Talvez viagem com amigas de mochilas às costas.
Afinal, eu sou a mãe.
Mas Veneza já ninguém nos tira.


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