Até
costumo dizer que se me dessem uma chave doutra casa e tivesse que deixar a
minha para trás, incluindo móveis e afins, eu ía sem pensar muito nisso. Talvez
levasse livros, fotografias, álbuns e recordações não eternizadas pela era
digital.
Mas isto não é o mesmo do que perder
tudo, do que deixar de ter um lar para onde voltar.
"Vou para casa" é
algo demasiado precioso para que seja possível sequer imaginar o que será não
poder dizer esta frase.
Não sou de apegos a objetos, roupas,
sapatos... mas sou de apegos às imagens que constituem a minha vida...
Custar-me-ía horrores perder os registos dos primeiros passos das minhas
filhas, dos primeiros sorrisos, de viagens, de férias em família, enfim de
todos os pequenos pedaços que fazem da nossa vida uma história.
Talvez por
isso, num inquérito feito há uns anos quando perguntavam "Em caso de
incêndio o que retirava primeiro de sua casa?(com excepção óbvia de pessoas e
animais)" a maioria respondeu "Fotografias".
Compreendo. Dou por mim a pensar na
resposta aquela pergunta.
É difícil mas seria a mesma. Ainda assim agora temos as clouds e os
backups na internet...tudo perdido não estaria…
A mais nova é de apegos. Não sai a mim.
Não gosta que eu dê roupa que já não lhe serve, livros de infância, fatos de
banho, sapatos, basicamente nada.
Diz que tem boas recordações do que viveu com essas coisas. Ou seja,
ela quer as coisas pelas recordações que lhe trazem. Lá vai dar no mesmo. O que
nos custa é perder as recordações como se de repente fosse através das coisas
que elas saltassem da memória.
Talvez porque se torna difícil ter apenas o presente, como se o passado não fizesse parte de nós. Perder certas coisas parece perder passado, com medo que a memória não chegue.
No outro dia demos um par de sapatilhas
a um amiga, sim porque dado a amigas ela não se importa….tanto (acho que é
porque fica por perto). Às vezes ela pede para lhe devolverem. Diz que é só
emprestado. Passo umas quase vergonhas já que entre amigos não há disto.
Sobre as tais sapatilhas disse-me “Oh
mãe é que foi com elas que aprendi a andar de bicicleta!”.
Nem eu me lembrava o
que ela tinha calçado nesse dia…mas ela sabe!
A mim chega-me ter as imagens desses momentos. Não preciso das sapatilhas.
Mas preciso muito de dizer a frase "Vou para casa".
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