Tínhamos planos para escapadela a dois.
Decidimos mudar.
De um dia para o outro estávamos os quatro no carro de malas prontas.
Destino: Gredos, Espanha. Caminhada na neve.
Há quem pense que nos aventuramos muito, mas a maior aventura seria mesmo o número de horas no carro com a R...
A tradição é rumar a Sul pela Páscoa. Nós rumamos a Este, ao País vizinho.
Chego a pensar que as minhas miúdas são as únicas que passam a vida a queixar-se.
Ele é o número de horas da viagem. A falta de músicas no telefone. A posição no banco do carro.
Querem saber o que vamos fazer no dia seguinte. Onde? Quando? Como?
Ora está muito frio. Ora aquece de repente.
Ora é muito a subir. Ora a bota magoa. Ora a camisola faz comichão.
Depois cai o bastão, as luvas molham-se e o cabelo não cabe no carapuço.
...
Reparo na aparente descontração dos espanhóis que nos rodeiam. Levam os miúdos às costas, uns andam na neve de sapatilhas e todos molhados...Até papa fazem para bebés, sentados numa rocha.... Sei que pouco tempo depois dei comigo a pensar e a verbalizar que se calhar para a próxima mantínhamos o plano inicial de escapadela a dois... Eu sei, não se diz...Respiro fundo.
Eu sei que não são as únicas. E afinal somos uns sortudos por elas nos quererem acompanhar e preferirem ir do que ficar no sofá.
Quando a paisagem se tornou mais branca, as queixas diminuíram e o entusiasmo subiu de tom.
Em cima da ponte, algures na "senda da laguna grande" pai e I seguiram em frente até à lagoa. Eu e R voltamos para trás. Eles dormiriam num refúgio na montanha. R ainda achou que poderia ir também....mas desta vez ainda não. A partir deste momento e até ao início da tarde do dia seguinte não teríamos contacto com eles.
(O refúgio está na imagem, logo ali a seguir à grande lagoa congelada)
De volta ao carro, ainda deu para brincar, saltar ao eixo e perder uma bota. Jogamos ao ABC fotográfico, que se revelou muito difícil nestas paragens, apelando à criatividade.
Após esta decisão sensata de não levar a R até ao refúgio (se bem que eu cá acho que ela teria conseguido) e já no hotel, caiu pelas escadas abaixo....Quer dizer, poupamos a rapariga a uma caminhada mais longa e depois duas negras, uma em cada canela. Ao menos ficou só por aqui...
É inevitável não pensarmos sempre nos outros dois de nós. Será que chegaram bem? A I terá gostado da caminhada? Será que ficou muito cansada? É o que dá a dependência da tecnologia na facilidade de contacto a cada instante, mas sem rede nada a fazer...
Eu e a R ficamos pelo descanso. Pelo bocadillo gigante, pelo caldo que não é bem sopa, por umas tapas com tempero a mais para ela. Mas não se queixou mais. Disse até que por ela estava tudo bem. Petiscou amendoins, à lareira, a fazer festas a uma gata e com saudades da nossa.
Acordamos mais tarde que o previsto.
Tivemos de estacionar mais longe do que no dia anterior. Mais 500m na caminhada, por estrada. Dia mais quente. Sol aberto. Menos agasalhos. Mais gente.
Quase às 13h tivemos notícias deles e eles nossas. Já não iríamos até à ponte.
Acenamos quando os vimos. A R foi a correr como se não os visse há dias e dias.
Queria contar tudo. A I também.
Foi tempo de escorregar em saco, de batalhas de neve, de mudas de roupa.
Acho sempre que as minhas são as mais barulhentas...que berram e fazem demasiado alarido... Mas era talvez por serem as únicas a falar português.
A fome chegou e uma esplanada para "alagartar" pareceu o melhor. E foi. Mas pouco depois parecia Verão e o Sol lá nos fez mais corados. Havia protetor solar, mas lá está....ora fica peganhento, ora não gostam do cheiro... O Wifi (leia-se úífi, em espanhol) deu para ligar à Terra e tentar saber se as notas já tinham saído.
A paisagem apelava ao descanso. Ao repouso. Ao silêncio. Mas não tenho miúdas dessas.
Decidiram pintar, tarefa à qual dedicaram uns valentes 15 minutos, sempre numa grande animação. Tal, que afugentaram uns vizinhos do sol...
Ainda deu para uns passeios ao entardecer, antes de dar o dia por encerrado.
Sempre com muita alegria e energia.
Antes assim!
Sem comentários :
Enviar um comentário